A ameaça está de volta e ronda os pequenos, principalmente nos primeiros seis meses de vida. Laboratório lança imunizante e divulga as estratégias de prevenção que realmente funcionam
Raramente se ouve falar em coqueluche nos dias atuais. A preocupação com a doença é restrita aos pais de recém-nascidos e se resume à tarefa de cumprir com o calendário de vacinação. Salvo a exceção, o problema parece esquecido em um passado longínquo. Um equívoco. O que pouca gente sabe é que a prevalência da enfermidade é crescente nos quatro cantos do planeta. E esse novo contexto requer precauções que vão muito além da imunização infantil.
Desde a década de 90, o aumento no número de casos vem chamando a atenção dos especialistas. Na América Latina, o crescimento foi de quase cinco vezes, entre os anos de 2003 e 2008. No Brasil, só em 2011, já foram notificados 593 episódios da doença, com 15 mortes, especialmente entre menores de um ano de idade. A maior vulnerabilidade nessa faixa etária é justificada por questões fisiológicas. “Provocada pela bactéria Bordetella pertussis, a infecção afeta o trato respiratório superior, que inclui a cavidade nasal, a faringe, a laringe e a parte superior da traqueia.
O micro-organismo também produz uma toxina que paralisa os cílios das células, impedindo-os de realizar sua função de expulsar secreções pulmonares”, explica a pediatra Luiza Helena Arlant, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo e vice-presidente da Sociedade Latino-Americana de Infectologia Pediátrica. “Esse muco represado favorece a proliferação de outros micróbios. Por isso, o quadro pode evoluir para pneumonia e insuficiência respiratória, entre outras complicações”, continua.
Raramente isso ocorre entre os adultos, mas, para os bebês, cujas vias aéreas têm menor calibre e o sistema imunológico é imaturo, o problema ganha maiores proporções.
Onde mora o perigo?
Não há dúvida de que a vacina, aplicada em três doses-- aos dois, aos quatro e aos seis meses de vida-- é a principal maneira de manter o bebê a salvo. Depois, ele deve receber dois reforços—um aos 15 meses e outro entre 4 e 6 anos de idade. “Ocorre que a criança só se torna realmente imune ao receber a terceira aplicação, no final do primeiro semestre”, avisa o médico Renato Kfouri, presidente da Associação Brasileira de Imunizações. “Ou seja, antes disso, o pequeno fica suscetível ao ataque da bactéria”, conclui.
Afinal, você deve estar se perguntando, como acontece o contágio? A resposta é surpreendente. “Em aproximadamente 33% dos casos, é a mãe quem transmite o micro-organismo ao bebê. Os pais são responsáveis por cerca de 16% dos episódios. Os irmãos, por 19% e os avós, por 8%”, revela Luiza Helena Arlant. “Em média, para cada confirmação de coqueluche, há dois adultos infectados que tiveram contato com a criança”, complementa Kfouri.
Ele explica que, em meados dos anos 70, a Bordetella pertussis circulava precocemente entre a população, na primeira década de vida. E a infecção natural confere proteção por até 15 anos. Com o advento da vacina, os indivíduos passaram a contar com uma imunidade cuja duração varia entre 6 e 8 anos. Acontece que, passado o período de blindagem, o organismo fica à mercê do inimigo novamente.
Mas, um terço dos adultos infectados sequer apresenta sintomas. Nos demais, a manifestação se assemelha a de um resfriado simples, com tosse súbita e incontrolável, frequentemente acompanhada por vômitos. A crise pode durar de algumas semanas a meses. Portanto, nem sempre a doença é diagnosticada e entra em remissão naturalmente. A conclusão de tudo isso é que, sem ter consciência de que carrega a bactéria, os pais, familiares e cuidadores do recém-nascido podem contaminá-lo.
Estratégia Cocoon: proteger os adultos para resguardar o bebê
Diante desse cenário, países como os Estados Unidos, a França, a Áustria e a Alemanha já incorporaram uma dose de reforço contra a coqueluche no calendário nacional de vacinação de adolescentes e adultos. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Imunizações preconiza o reforço para pré-adolescentes a partir de 11 anos, adultos, especialmente os que convivem com bebês, e idosos. Os especialistas reforçam a necessidade de imunização dos profissionais de saúde, considerados grupos de risco de transmissão de coqueluche. A Costa Rica foi ainda além nessa iniciativa de prevenção. Lá, o governo já prevê a imunização de mães e pais no pós-parto imediato.
Uma nova solução
O laboratório Sanofi Pasteur acaba de lançar, no Brasil, a vacina Adacel Quadra®. “Com apenas uma dose, ela oferece reforço contra coqueluche, tétano, difteria e poliomielite a adolescentes, adultos e crianças a partir de 3 anos de idade”, afirma Lúcia Bricks, diretora de Saúde Pública da Sanofi Pasteur no Brasil. Por enquanto, o imunizante estará disponível somente na rede privada. “Ele estimula rapidamente a resposta imune. Aproximadamente 40% dos anticorpos são produzidos em uma semana. Em 14 dias, cerca de 90% deles já foram fabricados”, garante. A expectativa é que a fórmula seja aplicada em todos os adolescentes e adultos que cuidam ou convivem com bebês.
Sob suspeita
Por fim, os médicos alertam para a importância de ficar de olho nos sintomas da coqueluche e procurar atendimento especializado. Há suspeita da doença, principalmente, quando a tosse persiste por mais de três semanas. “Em média, 20% dos indivíduos que manifestam esse quadro apresentam a enfermidade”, estima Kfouri. O tratamento com antibióticos é fundamental para minimizar o potencial de transmissão da bactéria.
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