Cerca de 15% das crianças brasileiras com mais de cinco anos de idade, que ainda não conseguem segurar a urina durante a noite, podem sofrer de uma disfunção chamada enurese noturna, que é a perda involuntária da urina durante o sono.
Segundo o professor da disciplina de urologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e fundador do Núcleo de Urologia Pediátrica da Escola Paulista de Medicina (Nupep), Maurício Hachul, uma das novidades da área é a constatação de que o problema tem forte componente genético. Pesquisas recentes, realizadas em 1995 e 1997, no exterior, demonstraram que, se um dos pais apresentou a disfunção na infância, a chance dessa criança desenvolver enurese noturna é de 45%. Um percentual que sobe para 75% quando o problema foi comum aos dois integrantes do casal.
Mas os fatores genéticos não são a única causa. Hachul enumera outros componentes importantes, como a tendência de eliminar grande quantidade de urina, a produção inadequada do hormônio antidiurético vasopressina (responsável por reter a urina durante a noite), distúrbios do sono que desencadeiem certa dificuldade para acordar e bexiga de dimensões reduzidas e menor elasticidade.
Também podem ser apontadas como causa a obstrução das vias aéreas por grandes adenóides ou amídalas (que atrapalham o sono e, consequentemente, trazem problemas para despertar), constipação, diabetes melitos, hiperatividade, doenças neurológicas e até mesmo aspectos psicológicos, como histórico de abuso sexual contra a criança.
Principais aliados dos médicos no combate à enurese, os pais devem ficar atentos ao comportamento de seus filhos. Segundo Hachul, ela é mais frequente nos meninos, mas o normal é que a criança vá de três a quatro vezes ao banheiro durante o dia. "Menos que três ou mais que oito é preocupante", afirma o urologista.
Em geral, os sintomas desaparecem na pré-adolescência, mas o problema pode persistir na vida adulta, atingindo hoje, entre 0,5% e 2,0% da população brasileira, ou seja, cerca de 340 mil pessoas que enfrentam situações constrangedoras em viagens de férias com amigos -com eventuais sequelas psicológicas para os adolescentes- ou interferindo até mesmo nos relacionamentos afetivos, sociais e de negócios, no caso dos adultos.
Tratamento
A enurese tem cura, mas o tratamento pode durar até três meses e envolve toda a família. Ao notar que a criança faz mais de duas vezes por semana "xixi na cama", os pais devem procurar a ajuda de um médico especializado. Normalmente, o início do tratamento começa aos sete anos.
De acordo com Hachul, o diagnóstico envolve um cuidadoso levantamento do histórico familiar, para saber se há causa hereditária, e o exame físico. "Após este último, solicitamos aos pais um diário miccional e alimentício", afirma o urologista, reafirmando a importância da adesão da família ao tratamento.
Em alguns casos, a reeducação alimentar já contribui para reduzir o problema. Afinal, a ingestão de quantidades elevadas de líquidos antes de dormir pode piorar o quadro. "Uma alimentação rica em fibras, por outro lado, regulariza a evacuação diária, o que também colabora no tratamento", declara Hachul.
Entre os novos procedimentos terapêuticos disponíveis, o urologista destaca o uso do chamado alarme -aparelho com sensor colocado junto ao corpo do paciente e que, ao detectar a saída de uma gota de urina, faz soar uma campainha que acorda a criança e os pais para criar um reflexo condicionado- e o fornecimento de hormônio antidiurético desmopressina (DDAVP). "Antigamente, usava-se antidepressivos, mas esse tratamento está obsoleto e apresenta efeitos colaterais fortes"
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